CAMINHOS INCERTOS, ALVOS INDEFINIDOS
Por
José Verneques Santos
1.
A PERIGOSA GUINADA POLÍTICA DA IGREJA EVANGÉLICA BRASILEIRA
“Todo homem, que se entrega à política, aspira
ao poder; seja porque
o considere como
instrumento a serviço da consecução de outros fins,
ideais ou
egoístas; seja porque deseje o poder “pelo poder”, para
gozar do
sentimento de prestígio que ele confere.” Max
Weber[1]
Sobre
a participação da igreja evangélica na política, as principais lideranças
evangélicas brasileira vêm gradualmente marcando presença nos Três Poderes e,
quanto às eleições, há pastores apoiadores e candidatos em todas as esferas:
municipal, estadual e federal, tanto apoiando e pedindo o apoio de seus membros
para candidatos de suas denominações, quanto para candidatos fora do circulo da
fé cristã evangélica. O retorno exigido disso é o compromisso de fidelidade que
cada um dos candidatos, se eleitos, devem assumir com relação a sua denominação,
a ética e aos valores cristãos da família tradicional. Os projetos políticos se
reformulam na medida em que a cada eleição aumenta a procura de candidatos
buscando apoio dos evangélicos e, eles passam a ser mais cobiçados e procurados
para apoiar esse ou aquele candidato, sempre com a proposta de fidelidade aos
valores defendidos pela nação evangélica. Os passos a seguir são indefinidos e
incertos, já que nem sempre aquilo que é proposto e ofertado é cumprido
pós-eleição pelo candidato (a) contemplado (a) com os votos dos evangélicos,
posto que os mesmos se comprometam com outras classes e segmentos que por vezes
confrontam tais valores, daí os perigos vigentes por parte de uma classe religiosa
que sempre se pautou pelos valores éticos e morais, pela defesa da família
tradicional, tendo como regra de fé e prática unicamente a Bíblia Sagrada.
2.
A ILUSÃO POR POLÍTICOS MESSIÂNICOS E SEU USO CONVENCIONAL NA POLÍTICA
BRASILEIRA
“E Jesus,
respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém
vos engane; porque
muitos virão em meu nome, dizendo:
Eu sou o Cristo;
e enganarão a muitos. Mt. 24:4,5.
O messianismo político ainda
tem sido muito explorado pela classe política, que recebe apoio por parte de
alguns líderes evangélicos. Obviamente isto é sem dúvida alguma, um dos maiores
erros cometidos repetidamente não somente pela massa evangélica na hora de
eleger seus candidatos, mas praticamente por toda a sociedade em geral. Não
deve haver fé religiosa ou confiança cega em políticos (o autor deste artigo
não acredita em nenhum político), mas sim exercer o direito de cidadão e
acompanhar (fiscalizar) atentamente o mandato daqueles que foram eleitos,
independentemente de o terem sido com ou sem o nosso voto. Eles jamais devem
ser beatificados, pelo contrário, devem ser cobrados por todo o período de seu
mandato em exercício a ponto de estarem cônscios de que estão sendo observados
e pressionados a cumprirem seu papel segundo a constituição do país, e isso
eles não devem fazê-lo com o pretexto de ser considerada uma virtude, mas
apenas o seu dever.
No Brasil o messianismo político
infelizmente é algo quase sui generis, e no meio evangélico ele é praticado com
certa freqüência. Na verdade, isso ainda ocorre por falta de uma
conscientização política de base na classe evangélica, muitos cristãos
evangélicos principalmente nos segmentos pentecostal e neopentecostal, ainda
não são devidamente politizados a ponto de fazerem certa autocrítica na hora de
escolher esse ou aquele candidato sem que haja cerceamento por parte de alguém.
E não quero com isso dizer que os fiéis não devam seguir orientação de sua
liderança com respeito à escolha deste ou daquele candidato, pois seus líderes
têm o direito e o dever de conscientizá-los e orientá-los em tudo, inclusive
nas questões políticas; quero dizer que os fiéis devem exercer sua liberdade de
decidir e fazer suas escolhas, sobretudo baseados na Escritura Sagrada e em sua
consciência política analisando o contexto em que estão inseridos, sem
influência exterior. Uma das primeiras coisas que aprendi com a ciência
política foi a de que assim como “não há
ser humano que nunca minta”, do mesmo modo, não há políticos que não
mintam, e isto está em conformidade com a Escritura Sagrada: “[...] Sempre seja Deus verdadeiro, e todo o
homem mentiroso... Rm. 3:4”, e é sob esse prisma que os cristãos
evangélicos devem enxergar a política, com confiança sem imaturidade, posto que
não deva haver ídolos na política, pois não há inocentes nela, ninguém se
iluda.
3.
A IGREJA DEVE CUMPRIR SUA VOCAÇÃO DISCERNINDO O SEU TEMPO
A Igreja não tem
e jamais deve ter fidelidade partidária;
o que ela tem e precisa preservar é a
fidelidade no seu Cristo,
mantendo-se fiel aos padrões bíblicos. Pr. José Verneques
A classe evangélica nunca foi tão cobiçada
por políticos de todos os matizes como nestes dias, isso porque os evangélicos
tiveram papel preponderante nas eleições de 2018, sendo responsável por eleger
um Presidente da República com uma espécie de “voto de minerva”. A partir de
então os evangélicos têm sido vistos como uma força de apoio indispensável a
todo aquele que quer ganhar as eleições, e é neste contexto que a frase em
exposição colocada logo no início deste artigo dita por Max Weber, deve ser
analisada. A igreja evangélica e seus líderes devem tomar todos os cuidados
possíveis antes de apoiar qualquer candidato, aventurando-se por caminhos não
conhecidos. Isso não significa que ela não deva participar da política, pois
como representante maior do Reino de Deus na terra e guardiã una do Evangelho
de Jesus Cristo, a igreja tem responsabilidades com a justiça em todos os
âmbitos, tanto a justiça espiritual, quanto a justiça social. Significa sim que
os evangélicos devem discernir sua real missão sacerdotal e abster-se de
polarizações estranhas ao objetivo primário da igreja aqui na terra. Penso que
a igreja evangélica não deve cair na armadilha de tomar partido por esse ou
aquele político cegamente, comprometendo desta forma seu currículo na
sociedade. Principalmente os que, como camaleões que escondem sua tez e se
infiltram no seio evangélico, hora decorando versículos bíblicos sem saber ao
menos o seu significado e nunca tomá-los como princípios para sua vida moral;
hora como amigos dos cristãos escondendo o compromisso de pautas anticristãs no
seu bojo. A Igreja Evangélica Brasileira não precisa destes, pois há homens e
mulheres extremamente capazes no meio evangélico brasileiro, e a igreja pode, a
partir de uma filosofia política transparente, justa, independente e imparcial,
através de seus próprios membros, contribuir grandemente para o bem estar em
todos os sentidos na nossa Nação. Como disse o sociólogo Freston[2]: “Religião e Política, sim; Igreja e Estado,
não”.
Soli
Deo Glória
Pr. José Verneques Santos
Presidente da AD - Ministério Paulista
Referências:
[1] WEBER, Max. Ciência e Política, duas vocações. Ed. Cultrix.
[2] FRESTON,
Paul. Religião e Política, sim; Igreja e Estado, não. Ed. Ultimato.
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