CAMINHOS INCERTOS, ALVOS INDEFINIDOS

 

 

CAMINHOS INCERTOS, ALVOS INDEFINIDOS

Por José Verneques Santos

 

1. A PERIGOSA GUINADA POLÍTICA DA IGREJA EVANGÉLICA BRASILEIRA

 

 “Todo homem, que se entrega à política, aspira ao poder; seja porque

o considere como instrumento a serviço da consecução de outros fins,

ideais ou egoístas; seja porque deseje o poder “pelo poder”, para

gozar do sentimento de prestígio que ele confere.” Max Weber[1]



      Os passos dados pela igreja em relação a sua participação na política partidária precisam ser, antes de tudo, bem pensados e norteados pelo seu compromisso com a Escritura Sagrada, pela ética e sensatez. A igreja como instituição organizacional não deve se furtar a fazer reflexões de natureza espiritual, sociológica e econômica do pensamento e da prática religiosa quanto a sua atuação e contribuição na política. Essas questões irão definir sua dimensão atitudinal que servirá de base indispensável nas suas decisões partidárias. A comunidade de Cristo é como um farol que brilha na escuridão das trevas deste mundo, sua missão é ser vista de tal modo, que influencie a sociedade de seu tempo a praticar o bem e seguir os padrões bíblicos. Seu dever é apresentar Jesus Cristo ao mundo que a cerca, mas o Cristo que a Igreja deve apresentar é o Cristo vivo e poderoso, capaz de transformar vidas destruídas e desesperançosas tornando-as novas criaturas nascidas d’Ele. Para isso a Igreja precisa se conscientizar de que está neste mundo, e ao mesmo tempo em que ela não deve compactuar com o pecado que o domina, também e de modo algum, pode ser estranha à sociedade que a ouvirá. As questões enfrentadas pela Igreja destes dias são diversas, sua postura definirá sua visão. A aceitação de sua mensagem dependerá de como ela entende e enfrenta as questões divergentes.

     Sobre a participação da igreja evangélica na política, as principais lideranças evangélicas brasileira vêm gradualmente marcando presença nos Três Poderes e, quanto às eleições, há pastores apoiadores e candidatos em todas as esferas: municipal, estadual e federal, tanto apoiando e pedindo o apoio de seus membros para candidatos de suas denominações, quanto para candidatos fora do circulo da fé cristã evangélica. O retorno exigido disso é o compromisso de fidelidade que cada um dos candidatos, se eleitos, devem assumir com relação a sua denominação, a ética e aos valores cristãos da família tradicional. Os projetos políticos se reformulam na medida em que a cada eleição aumenta a procura de candidatos buscando apoio dos evangélicos e, eles passam a ser mais cobiçados e procurados para apoiar esse ou aquele candidato, sempre com a proposta de fidelidade aos valores defendidos pela nação evangélica. Os passos a seguir são indefinidos e incertos, já que nem sempre aquilo que é proposto e ofertado é cumprido pós-eleição pelo candidato (a) contemplado (a) com os votos dos evangélicos, posto que os mesmos se comprometam com outras classes e segmentos que por vezes confrontam tais valores, daí os perigos vigentes por parte de uma classe religiosa que sempre se pautou pelos valores éticos e morais, pela defesa da família tradicional, tendo como regra de fé e prática unicamente a Bíblia Sagrada.


2. A ILUSÃO POR POLÍTICOS MESSIÂNICOS E SEU USO CONVENCIONAL NA POLÍTICA BRASILEIRA


“E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém

vos engane; porque muitos virão em meu nome, dizendo:

Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos. Mt. 24:4,5.


 

     O messianismo político ainda tem sido muito explorado pela classe política, que recebe apoio por parte de alguns líderes evangélicos. Obviamente isto é sem dúvida alguma, um dos maiores erros cometidos repetidamente não somente pela massa evangélica na hora de eleger seus candidatos, mas praticamente por toda a sociedade em geral. Não deve haver fé religiosa ou confiança cega em políticos (o autor deste artigo não acredita em nenhum político), mas sim exercer o direito de cidadão e acompanhar (fiscalizar) atentamente o mandato daqueles que foram eleitos, independentemente de o terem sido com ou sem o nosso voto. Eles jamais devem ser beatificados, pelo contrário, devem ser cobrados por todo o período de seu mandato em exercício a ponto de estarem cônscios de que estão sendo observados e pressionados a cumprirem seu papel segundo a constituição do país, e isso eles não devem fazê-lo com o pretexto de ser considerada uma virtude, mas apenas o seu dever.

     No Brasil o messianismo político infelizmente é algo quase sui generis, e no meio evangélico ele é praticado com certa freqüência. Na verdade, isso ainda ocorre por falta de uma conscientização política de base na classe evangélica, muitos cristãos evangélicos principalmente nos segmentos pentecostal e neopentecostal, ainda não são devidamente politizados a ponto de fazerem certa autocrítica na hora de escolher esse ou aquele candidato sem que haja cerceamento por parte de alguém. E não quero com isso dizer que os fiéis não devam seguir orientação de sua liderança com respeito à escolha deste ou daquele candidato, pois seus líderes têm o direito e o dever de conscientizá-los e orientá-los em tudo, inclusive nas questões políticas; quero dizer que os fiéis devem exercer sua liberdade de decidir e fazer suas escolhas, sobretudo baseados na Escritura Sagrada e em sua consciência política analisando o contexto em que estão inseridos, sem influência exterior. Uma das primeiras coisas que aprendi com a ciência política foi a de que assim como “não há ser humano que nunca minta”, do mesmo modo, não há políticos que não mintam, e isto está em conformidade com a Escritura Sagrada: “[...] Sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso... Rm. 3:4”, e é sob esse prisma que os cristãos evangélicos devem enxergar a política, com confiança sem imaturidade, posto que não deva haver ídolos na política, pois não há inocentes nela, ninguém se iluda.


3. A IGREJA DEVE CUMPRIR SUA VOCAÇÃO DISCERNINDO O SEU TEMPO


A Igreja não tem e jamais deve ter fidelidade partidária;

 o que ela tem e precisa preservar é a fidelidade no seu Cristo,

 mantendo-se fiel aos padrões bíblicos. Pr. José Verneques


 

     A classe evangélica nunca foi tão cobiçada por políticos de todos os matizes como nestes dias, isso porque os evangélicos tiveram papel preponderante nas eleições de 2018, sendo responsável por eleger um Presidente da República com uma espécie de “voto de minerva”. A partir de então os evangélicos têm sido vistos como uma força de apoio indispensável a todo aquele que quer ganhar as eleições, e é neste contexto que a frase em exposição colocada logo no início deste artigo dita por Max Weber, deve ser analisada. A igreja evangélica e seus líderes devem tomar todos os cuidados possíveis antes de apoiar qualquer candidato, aventurando-se por caminhos não conhecidos. Isso não significa que ela não deva participar da política, pois como representante maior do Reino de Deus na terra e guardiã una do Evangelho de Jesus Cristo, a igreja tem responsabilidades com a justiça em todos os âmbitos, tanto a justiça espiritual, quanto a justiça social. Significa sim que os evangélicos devem discernir sua real missão sacerdotal e abster-se de polarizações estranhas ao objetivo primário da igreja aqui na terra. Penso que a igreja evangélica não deve cair na armadilha de tomar partido por esse ou aquele político cegamente, comprometendo desta forma seu currículo na sociedade. Principalmente os que, como camaleões que escondem sua tez e se infiltram no seio evangélico, hora decorando versículos bíblicos sem saber ao menos o seu significado e nunca tomá-los como princípios para sua vida moral; hora como amigos dos cristãos escondendo o compromisso de pautas anticristãs no seu bojo. A Igreja Evangélica Brasileira não precisa destes, pois há homens e mulheres extremamente capazes no meio evangélico brasileiro, e a igreja pode, a partir de uma filosofia política transparente, justa, independente e imparcial, através de seus próprios membros, contribuir grandemente para o bem estar em todos os sentidos na nossa Nação. Como disse o sociólogo Freston[2]: “Religião e Política, sim; Igreja e Estado, não”.

Soli Deo Glória    

 

Pr. José Verneques Santos

Presidente da AD - Ministério Paulista

 

 

Referências:

 

[1] WEBER, Max. Ciência e Política, duas vocações. Ed. Cultrix.

[2] FRESTON, Paul. Religião e Política, sim; Igreja e Estado, não. Ed. Ultimato.


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