O PROBLEMA DA INDOLÊNCIA NO MEIO CRISTÃO







E os judeus perseguiam Jesus, porque fazia estas coisas no sábado; mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” (João 5.16-17 – grifo meu)



Introdução

O senso de urgência sempre fez parte do pensamento de Jesus. Os três evangelhos sinópticos, apresentam Jesus como um homem atuante, laborioso, produtivo. Mesmo em hora de descanso, nota-se o Mestre vigilante, pronto para agir. (Mateus 8.25).

O quarto evangelho - de João – que apresenta o Verbo que se fez carne e habitou entre nós (1.14), faz um retrato dinâmico do Senhor Jesus. Sugiro que se faça uma leitura atenta desse evangelho, assinalando, nos capítulos, os inúmeros termos marcadores circunstanciais (tempo, modo, situação) como denotadores de um processo contínuo: “No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha...” (1.29); “No dia imediato, resolveu...” (1.43); “Três dias depois...” (2.1); “Tendo Jesus dito estas palavras, saiu...” (18.1); “Depois de terem comido, perguntou Jesus...” (21.15).

As ações do Senhor Jesus, em seu ministério terreno, foram grande exemplo para os seus discípulos, tornando-os apóstolos cheios de dinamismo na expansão do Reino de Deus. A Igreja primitiva resultou dessa noção de urgência e de dinamicidade, como se nota, também, no trabalho do último dos apóstolos do Senhor, Paulo de Tarso. A Igreja nunca parou! A Igreja segue caminhando, por isso, nela não cabe qualquer estado de dormência.



“Quem sua mão ao arado já pôs, constante precisa ser. O sol declina e, logo após, vai escurecer. Avante, em Cristo pensando, em oração vigiando, com gozo e paz trabalhando pra teu Senhor.” (H.C. 394)



  1. A BATALHA ENTRE O DINAMISMO E A INDOLÊNCIA

 

A palavra dínamo deriva do grego dynasthai: capacidade para produzir; poder para realizar. De dínamo vêm as palavras dinamismo (aptidão para ser enérgico, ter vitalidade, prontidão) e dinamicidade (qualidade de quem é dinâmico, que se mantém em atividade, que tem prontidão para agir).

O antônimo de dinâmico é indolente, isto é, apático, improdutivo, não cooperador. Originalmente, a palavra indolente significa “aquele que é insensível à dor”, ou seja, o indivíduo desligado das circunstâncias.

A indolência é um dos males que atingiram o ser humano afetado pelo pecado. A incredulidade, o egoísmo, a alienação, o desinteresse pelo bem alheio são a causa da indolência. Todo indolente tem má vontade, é preguiçoso; portanto, inútil ao meio em que vive (ou vegeta). O indolente é parasita.


Quando o Senhor Jesus, às vias do sacrifício supremo, orava ao Pai, no jardim do Getsêmani, os seus discípulos dormiam recostados. Eles, entretanto, não ignoravam que Jesus estava em sofrimento; simplesmente, foram indolentes.


“Em seguida, foi Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse aos seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar; e, levando consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Então lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte, ficai aqui e vigiai comigo.” (Mateus 26.36-38)


Os versículos 39 a 45, do mesmo texto, narram a triste condição de indolência humana diante do profundo sofrimento do próprio Senhor Jesus. Três vezes Jesus voltou da dolorosa súplica, e encontrou seus amigos dormindo! Quão profunda não será a indolência de muitos crentes para com os assuntos que afligem o trabalho na obra do Senhor?


Crentes que se desenvolvem no dinamismo cristão atuam com presteza na obra do Senhor. O evangelho não tem seguidor “não praticante”, como têm as religiões. São muitas as igrejas que agregam membros indolentes, e alegam em próprio favor - mas isoladamente - o versículo registrado em Efésios 4.2. Essa atitude nada tem com o conselho de Paulo, para que os irmãos se suportem em amor.

Igreja que se torna conivente com a falta de fervor evangélico mostra apoio a uma indolência deletéria, que sacrifica nos campos de batalha aqueles que precisam de ajuda para a expansão e consolidação do Reino de Deus no mundo. Jesus mandou que os discípulos rogassem ao Senhor da seara pelo envio de ceifeiros que os ajudassem. (Mateus 9.38) Certamente, o Senhor não contava com servos indolentes, mas com trabalhadores dinâmicos.


  1. A INDOLÊNCIA CORRÓI TRABALHO EM ANDAMENTO


A pandemia que ora o mundo inteiro atravessa, entre os maus resultados que trouxe, deixou escapar uma lição preciosa para quem é atento: o grau de indolência entre os membros das igrejas.

Bastou que as autoridades determinassem o fechamento dos templos, ou a redução da quantidade de participantes nos cultos, para que ocorresse uma debanda geral de “fiéis” (leia-se a ironia). Não há sentido positivo entre indolência e fidelidade. A pandemia escancarou a quantidade vergonhosa de cristãos indolentes nas igrejas.


Não se entenda, no que digo aqui, uma posição negacionista (palavrinha ridícula do modismo de esquerda). Não incentivo a “invasão” dos locais de culto, para mostrar uma fé estúpida. Há, sim, necessidade do controle presencial, por enquanto. Mas, obviamente, já se dispensa o controle de frequência aos cultos, pois não há tantos interessados em buscar a presença de  Deus nem na meditação da sua Palavra.

Todavia, retomando a questão da indolência, é possível constatar que esse estado de espírito embota a capacidade criativa necessária à obra de Deus. As corporações humanas, a fim de evitar aglomeração, passaram a valer-se das atividades em home office. Essa modalidade de trabalho, em muitos casos, tornou-se tão eficiente que alguns empresários já decidiram mantê-la, independentemente de qualquer circunstância.

É certo que a maioria das igrejas - por não terem verba suficiente para programas em televisão - passaram a transmitir cultos on line. Entretanto, tais igrejas deparam com um problema a mais: os membros “adoraram” ver cultos pela Internet, instalados em seus sofás! Além disso, a freguesia (desculpem o termo) descobriu que, a cada domingo, pode ver um culto diferente, de uma igreja diferente, tal a gama de programações à disposição, a partir das 18 horas. Esvaiu-se o compromisso com a igreja que os acolheu. O nome disso: síndrome da indolência.


As portas dos templos foram reabertas, e congregam, a cada domingo, bem menos pessoas do que a capacidade permitida pelas autoridades. Isso evidencia a indolência crescente entre os que dizem “servir ao Senhor”.


“Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vemos que o Dia se aproxima.” (Hebreus 10.25)



Seria dispensável lembrar à igreja que templos têm compromissos financeiros; aliás, templos não; os membros da igreja têm compromisso financeiro com ela!

A pandemia não extinguiu a responsabilidade. Inúmeros projetos ficaram interrompidos pela falta de cooperação: acabam-se as Escolas Dominicais, os departamentos de Música e Coro, as Reuniões de Oração e, até mesmo os cultos de Celebração da Ceia do Senhor; já há Ceia por Internet! O trabalho de assistência social, hoje, mais do que necessário, apaga-se nas igrejas. Mas, os “evangélicos” vivem como nos dias de Noé: casam-se, dão-se em casamento, preocupam-se com as coisas perecíveis deste mundo, com as quais também perecerão. 

A indolência cristã faz com que não se pense em alternativas inteligentes e abençoadas para que os trabalhos da igreja local e o evangelho não sofram em sua continuidade. As alternativas existem, tanto que o mundo corporativo as usa e as desenvolve. Jesus disse que os filhos das trevas são mais espertos em seus empreendimentos do que os filhos da luz. (Lucas 16.1-8)


  1. OPORTUNIDADE PARA DESPERTAR


O Reino de Deus se caracteriza pela produtividade, o povo de Deus deve ser dinâmico, disposto ao trabalho, ainda que enfrente grandes dificuldades. Os apóstolos que conduziram a igreja primitiva jamais temeram problemas e perseguições; eles bem entenderam as palavras do Senhor Jesus, que lhes disse:


“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século.” (Mateus, 28.19-20)


  1. DEVEMOS EXCLUIR DO ROL DE MEMBROS OS INDOLENTES?


A prática de exclusão de uma pessoa do rol, de membros de uma igreja precisa ser bem compreendida por quem a aplica e por quem a sofre. Em princípio e rigorosamente falando, nenhuma igreja exclui “membro”. Com isso quero dizer que o excluído já (anteriormente) deixara de ser membro. A indolência espiritual é o processo que conduz a sua vítima ao desligamento do corpo de Cristo; a exclusão não é, a priori, um ato da igreja.

A Bíblia ilustra a condição do incluído na Igreja e do excluído dela:


“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto, limpa, para que produza mais fruto ainda.” (João 15.1-2 grifo meu)

“Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam.” (João 15.6)


O membro incluído na Igreja é a vara que permanece na Videira Verdadeira, por isso, dá fruto e é aperfeiçoado, para que frutifique mais ainda!

O membro excluído da Igreja é o ramo que não permanece na Videira Verdadeira (é parasita), por isso, será lançado fora, para ser destruído no fogo. Quem o exclui não é a Igreja, mas o Pai, que é o lavrador.

À igreja cabe constatar que o ramo seco foi cortado pelo Pai; ela apenas tira dos seus registros o nome daquele que fora um dos membros.

Dessa maneira, convém avaliarmos que a execução da pena, pelo Pai da seara, é muito mais terrível do que se possa imaginar, a partir de um simples comunicado de exclusão do rol de membros.

Que Deus nos livre de tamanha penalidade divina! 


Conclusão


Não deve restar dúvida de que a ordem de Jesus não foi exclusiva para os apóstolos; ele a deu, também, para toda a Igreja que ele próprio instituiu, a fim de que o Reino de Deus abranja integralmente a humanidade. A responsabilidade, outrora, dada aos apóstolos, vem sendo transmitida de geração para geração, tendo chegado à Igreja dos nossos dias, com as mesmas exigências: dinamismo, perseverança, frutificação e confiança inabalável na presença do Mestre, pois ele rogou ao Pai o envio do Consolador. Essas características excluem os que se descuidam da sua condição de membros do corpo, porque amam a indolência e o interesse próprio.


“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.” (João 14.16-18). Amém!


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